As 27 plataformas de águas rasas, os 20 campos produtores de petróleo em terra, assim como a refinaria Clara Camarão pertencem agora à empresa 3R Petroleum. O processo de compra, assinado no início de 2022 ainda no governo Bolsonaro, foi concluído nesta quinta (9). Segundo a direção do Sindipetro-RN, 300 pessoas já foram demitidas e outras 950 já receberam aviso prévio.
“Enfrentamos situação inédita para o Rio Grande do Norte, que é a ausência da Petrobras na cadeia de petróleo e seus derivados. Já temos efeitos imediatos, com o desligamento de 1.250 postos de trabalho ligados diretamente à atividade de produção. Além disso, também temos uma preocupação com a segurança de abastecimento, porque a Petrobras possuía um sistema integrado de produção, quando faltava algum componente aqui, recebíamos da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, do petróleo do pré-sal, das refinarias de São Paulo”, alerta Ivis Corsino, coordenador-geral do SINDIPETRO-RN.
O Polo Potiguar tem cerca de 2.400 funcionários, contando com aqueles que são concursados. Durante as tratativas com o Sindicato, a promessa foi de recontratar os demitidos.
“Nossa preocupação era que garantissem a manutenção dos postos de trabalho, a promessa é que em prazo de dois a três meses os trabalhadores fossem recontratados. Mas não há garantia, é uma empresa privada que não tem obrigação de contratar”, destaca Marcos Brasil, diretor do SINDIPETRO-RN.
Na avaliação da direção do Sindicato dos Petroleiros do RN, a venda do Polo Potiguar também representa uma volta da paridade de preços com base no mercado internacional, mais volátil e com valores fixados com base no dólar norte-americano. De acordo com Ivis Corsino, a nova operadora, a 3R Petroleum, não possui refinaria própria e ainda não se sabe se ela vai refinar o petróleo extraído das terras potiguares por aqui ou se ele será vendido em estado bruto, para ser refinado em outro local.
“A nova operadora não possui refinaria própria e ficará limitada à sua produção e a comprar no mercado internacional para garantir o abastecimento. Ontem ela já aumentou o preço dos derivados gasolina e diesel. O gás também deve sofrer aumento. Essa oneração é o retorno à política de preços com base na paridade de importação, internacional. Então além da insegurança no abastecimento, temos também a questão do aumento”, critica o coordenador-geral do SINDIPETRO-RN.
Atualmente, toda produção de petróleo extraída no polo potiguar é processada na refinaria Clara Camarão, em Guamaré. Os resíduos que não são aproveitados no RN por falta de laboratórios com mais tecnologia, são enviados para outras unidades, o que resulta na produção de outros derivados, como o diesel S10, por exemplo.
“Estávamos num caminho de aumentar o processamento de petróleo na nossa refinaria o que, consequentemente, estava no caminho de baixar preço. Agora, podemos estar no caminho contrário. Eles [a empresa] querem retorno em menor prazo e não há preocupação em aproveitar os polos”, acrescenta Corsino.
Menor arrecadação?
A substituição da Petrobras pela 3R ainda pode resultar num terceiro impacto, o da redução na arrecadação de impostos pelo Governo do Estado do RN por causa da queda de produção.
“Pode impactar até na arrecadação de tributos para o governo local, porque se não tiver refino aqui, teremos que trazer combustível da Abreu e Lima, em Pernambuco. Com isso, o governo deixa de arrecadar o que era produzido aqui e passa a arrecadar apenas a diferença de alíquota de PE para o RN”, detalha Ivis Corsino.
“Essa é uma empresa voltada para produção de remuneração de acionistas. Não há intenção de prolongar a atividade de produção. Eles compraram o polo de Macau, que foi vendido em 2019, hoje já tiveram redução de 1/3 da produção que faziam três anos antes da operação. Há perspectiva que isso ocorra nos demais polos no RN. Pode até haver aumento a curto prazo, mas que logo vai diminuir”, acrescenta.
Aposta em um novo começo
A empresa 3R pagou 1 bilhão e 98 milhões de dólares pelo Polo Potiguar, que produz cerca de 6 bilhões de dólares brutos por ano, sem tirar as despesas.
Agora, a estimativa é que a Petrobras retome os investimentos no Rio Grande do Norte através da produção de energia eólica no mar e em águas profundas (petróleo). A sede da estatal, que permanece em Natal, será base de referência para essa retomada, segundo o Sindpetro-RN. A estatal manteve apenas a usina termoelétrica localizada no vale do Açu.
Agência Saiba Mais