A Petrobrás como Estatal indutora de desenvolvimento para o Brasil, e não apenas como um espaço mercadológico de disputa estrangeira. Esse foi o ponto central e um questionamento facundo sobre papel do setor petróleo para o país no futuro, feito durante a palestra ministrada pelo pesquisador do INEEP, Rodrigo Pimentel Ferreira Leão, na 9ª edição do projeto Na Trilha da Democracia.

O evento, promovido pelo SINDIPETRO-RN, ADURN-Sindicato e Frente Brasil Popular, foi realizado na noite da última quinta-feira, 14, no auditório da Biblioteca Central Zila Mamede (BCZM), para discutir o redirecionamento estratégico de diversificação das fontes energéticas e o desenvolvimento tecnológico para exploração do petróleo, a partir do governo temporário de Temer e da gestão do ex-presidente da Petrobrás, Pedro Parente.

A adoção de uma política de transferências de ativos da Petrobrás para empresas concorrentes do setor alterou a visão do papel da Petrobrás tanto na economia brasileira quanto na sua inserção global no setor de petróleo, dando lugar a uma visão curto prazo e subalterna na disputa geopolítica. 

Apresentando dados comparativos da Petrobras, Rodrigo Leão apontou o processo de desmonte pelo qual a Estatal está passando nos últimos anos. Segundo o pesquisador, os investimentos na empresa caíram 50% de 2013 para 2017. “O que nós estamos fazendo hoje é voltando ao processo de queda pelo qual a empresa passou durante os anos 90, com uma diferença, hoje nós temos o Pré-sal. A gente está abrindo mão de novo de ser uma empresa integrada, coisa que todas as grandes empresas do mundo são, porque ao você ser uma cadeia integrada você gera flexibilidade do seu recurso”, destacou ele.

O pesquisador também desconstruiu a ideia, propagada pela mídia hegemônica, de que a empresa está quebrando. “A Petrobrás toda vez que vai ao mercado financeiro não tem problema nenhum para captar recurso, a atual gestão está conseguindo só com fluxo de caixa e alongamento de dívida resolver a questão do financiamento da companhia. Se a gente olhar, até agora a Petrobras vendeu poucos ativos perto do que ela pretendia vender. O que está resolvendo a questão financeira não tem nada a ver com venda de ativos, tem a ver que a Petrobras tem capacidade de tomar financiamento e ela gera caixa com as suas atividades hoje para conseguir pagar sua dívida”, esclareceu o palestrante.

Para Rodrigo, o processo de desmonte da empresa está diretamente relacionado a uma estratégia política. “Nós estamos falando de um recurso que o Brasil tem e que muitos países querem – eles precisam para usar internamente – e nós temos em abundância, poderíamos utilizar isso para desenvolver uma série de setores industriais e nós estamos simplesmente abrindo mão”.

O palestrante explicou que a Petrobrás hoje está virando uma empresa de exploração e produção só do pré-sal e ainda assim com papel menos protagonista do que ela deveria ter. Além disso a companhia está saindo dos demais setores de forma totalmente descoordenada.

“Os argumentos que são usados em geral não se sustentam quando começamos a olhar o efeito prático das coisas. A empresa rapidamente conseguiu retomar o lucro. É bom lembrar que a redução de lucro muito pouco tem a ver com problemas operacionais da companhia e sim com processos contábeis. A Petrobras não teve perda de dinheiro nas suas operações”, afirmou Rodrigo Leão.

Sobre o papel da Companhia para o país, o pesquisador esclareceu que a companhia não se resume a uma empresa exploradora de petróleo. “A Petrobras dinamiza investimento em máquina e equipamento no Brasil, na indústria naval, ela estava abastecendo o setor da agricultura familiar, a indústria química, então a Petrobras é tudo isso. E em um país em desenvolvimento que vem vivendo progressivamente um processo de desindustrialização, sem a Petrobras eu tendo a dizer que nós vamos voltar a ser mais ou menos o que nós éramos nos anos 30”, fez o alerta.

Após a exposição, os presentes tiveram a oportunidade de tirar dúvidas e fazer colocações acerca do tema. A palestra completa pode ser assistida neste endereço: https://www.facebook.com/adurnsindicato/videos/1915266651844895/

Mesa de Abertura

Durante a mesa de abertura, o coordenador geral do SINDIPETRO-RN, Ivis Corsino, destacou a importância de se discutir o papel de uma Petrobrás para o desenvolvimento do país. “O debate que tem se inserido na sociedade a partir da movimentação dos caminhoneiros no último mês de maio, trouxe publicidade a um tema que a categoria petroleira desde a sua concepção já trava com a sociedade e com o capital produtivo. E hoje debatendo esse tema com o pesquisador Rodrigo Leão, sairemos com certeza com provocações e inquietações para que possamos debater no seio dos nossos fóruns o papel de uma Petrobras estatizada e forte”, afirmou.

Para o presidente do ADURN-Sindicato, Wellington Duarte, o projeto tem mostrado a necessidade de transformar as inquietações em debate. “No Rio Grande do Norte o petróleo tem uma importância fundamental. Atualmente 40% do valor bruto da produção industrial do nosso estado vem do petróleo e 20% da arrecadação dos impostos vem da Petrobras. Então na hora que você tem uma economia atrasada e pobre como a nossa, é preocupante ver a Petrobras começando a nos deixar, não por opção dos trabalhadores, mas por opção dos que tomaram o poder. Nesse sentido esse debate é importante para que a sociedade entenda a necessidade de defender essa empresa que é tão rica e produtiva, mas que agora está sendo ameaçada pelo governo”, ressaltou Wellington.

Também participaram da mesa de abertura o representante da Federação Única dos Petroleiros, Orildo Lima e Silva, e o diretor do Sindipetro/RN, George Câmara, representando a Frente Brasil Popular.