A Petrobrás voltou a ser a segunda maior empresa de capital aberto no Brasil, com valor de mercado de R$ 211,64 bilhões. No ranking da consultora financeira Economática, a companhia perde apenas para a Ambev e, com isso, repete o cenário de julho de 2015.

Ainda segundo o levantamento, a valorização em R$ 110,3 bilhões, o maior percentual desde 2000, aconteceu em plena crise do governo Dilma Rousseff, entre janeiro e outubro deste ano. Apesar disso, especialistas alinhados ao governo ilegítimo de Michel Temer (PMDB) apressaram-se em atribuir ao golpista os méritos pela mudança.

O coordenador-geral da FUP (Federação Única dos Petroleiros), José Maria Rangel, e o cientista político e professor de Relações Internacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC), Igor Fuser, rebatem essa análise.

Para eles, a mudança de cenário não é um milagre de um grande estadista, tampouco serve para os brasileiros dormirem tranquilos e imaginarem que a companhia será blindada contra a privatização.

Rangel ressalta que, enquanto a Petrobrás sofria ataques com pouco argumentos, os petroleiros sempre alertaram sobre a crise do petróleo ser mundial e esse não ser argumento para aprovação de projetos como o PL 4567/2016, que entregou o pré-sal às transnacionais.

“A Petrobrás gerou ao longo dos últimos anos um caixa muito bom, na ordem de R$ 30 milhões, e só passou a ter dificuldade quando o governo Dilma optou por uma política que não acompanhava mais os preços internacionais do petróleo. Isso é possível avaliar tecnicamente observando os balanços da empresa. Ou alguém achou que realmente teria ações a apenas R$ 4?”, questionou.

Gestão Parente quer agradar acionistas

Segundo o dirigente, essa valorização é resultado direto de medidas que o mercado defende, como a venda de ativos. 

“O mercado é muito volátil, especula direto com as ações e pode ter certeza de que só estão subindo por conta do desinvestimento, da venda de ativos lucrativos e de outros que estão na alça de mira para vender. Para eles, quanto mais vender, melhor, a gestão de Pedro Parente (presidente da Petrobrás) quer agradar é acionistas.”

Mas se é bom para o mercado, não necessariamente esse processo é bom para o país, alerta Rangel. “Como podemos ficar satisfeitos em ver a Petrobrás vender o controle acionário de uma empresa de gás do Sudeste? Em saber que para transportar gás por esses gasodutos vamos ter de pagar e o preço final ao consumidor pode ser mais caro?”, critica.

O professor Igor Fuser ressalta ainda que essa valorização, ao invés de manter a empresa nas mãos do país, poder ter exatamente o objetivo contrário.

“Querem tornar a Petrobrás atrativa a investidores estrangeiros para vender ações e promover um processo de privatização do petróleo. Aliás, é bom que os brasileiros saibam que não é a empresa que está sendo privatizada, mas aquilo que temos de mais importante, o nosso petróleo”, diz.

Na avaliação de Fuser, a privatização da Petrobrás vai caminhar em alguma medida, mas não é a prioridade na agenda neoliberal. A prioridade é atrair investidores para vender na bacia das almas as reservas do pré-sal, fazer caixa para o governo e compensar o apoio que os golpistas receberam das grandes petroleiras, começando por Shell e Chevron.

Em cacos?

Para Igor Fuser, o episódio é um sinal de cinismo dos atuais detentores do poder no país e desconstrói o discurso elaborado por eles mesmos.

“Até pouco tempo, estava em curso uma campanha de desmoralização da empresa, apresentada como um fracasso completo, como uma empresa em frangalhos, falida, quebrada. Atribuindo-se a culpa por essa suposta bancarrota ao governo democrático que acaba de ser deposto. Na verdade, nunca esteve quebrada, sempre foi uma empresa modelo, conseguiu algo que nenhuma outra petrolífera do mundo conseguiu que foi colocar em produção uma reserva de petróleo das dimensões do pré-sal em tão poucos anos, que cresce a cada dia.”

O motivo para os ataques, pontua, é justamente a capacidade produtiva. “Dentro de pouco tempo, o Brasil vai produzir mais petróleo do pré-sal do que todos os outros poços em operação. E é de olho nisso que os financiadores do golpe estão.”

Fonte: CUT