Em entrevista de página inteira à Folha de São Paulo na segunda-feira, 18, o presidente interino da Petrobrás, Pedro Parente, tentou dourar a pílula do desmonte que está em curso na estatal. Hipocritamente, declarou que não defende a privatização da empresa, mas é a favor do controle compartilhado com o setor privado, o que chama de “cocontrole”. Disse ainda que irá preservar a empresa verticalizada e os seus interesses estratégicos.
Não precisa ser especialista no setor para perceber a má fé de Pedro Parente. Sob o seu comando, a Petrobrás está sendo esquartejada, com ativos valiosos em processo de liquidação, como malhas de gasodutos, termoelétricas, terminais de gás natural, campos de produção de petróleo, fábricas de fertilizantes, além de subsidiárias como a BR Distribuidora, a Liquigás e a Transpetro.
Como preservar a empresa verticalizada se ele está quebrando a integração do Sistema? Que nome damos a isso, se não privatização? Essa lorota de “cocontrole” nada mais é do que dilapidar o patrimônio da Petrobrás, entregando nas mãos do sócio privado o destino de investimentos que são estratégicos para o Estado. Esse modelo já foi testado no governo FHC, quando Pedro Parente, então ministro da Casa Civil e conselheiro da estatal, autorizou a venda de 30% da Refap para a Repsol, que já havia comprado a YPF, a petroleira estatal argentina.
O resultado foi um fiasco. Por conta do tal controle compartilhado, a Petrobrás ficou anos a fio refém dos interesses do sócio minoritário, que, vetava qualquer tipo de investimento que não tivesse retorno financeiro imediato, como, por exemplo, as obras para adequar as unidades da refinaria às exigências da legislação ambiental. Essa sangria só teve fim quando a Refap voltou a ser 100% Petrobrás, em dezembro de 2010.
Pedro Parente sabe muito bem que seu papel não é defender os interesses estratégicos da Petrobrás, como disse na entrevista. Sua função é preparar a companhia para atender aos interesses econômicos dos setores que apoiaram o golpe. Por isso é contra a Petrobrás ser a operadora do Pré-Sal. Na entrevista à Folha, ele chegou a afirmar que o modelo de partilha é “o menos favorável para as empresas”. Como assim? Quem Pedro Parente representa? A Petrobrás ou as suas concorrentes? Um gestor que abre mão de 30% de participação garantida nos campos do Pré-Sal definitivamente não tem qualquer compromisso com os interesses estratégicos da empresa que comanda.
As multinacionais querem abocanhar a maior reserva de petróleo do planeta todinha para elas, sem partilhar nada com o Estado ou com o povo brasileiro. E para isso contam com a ajuda de Pedro Parente, cuja missão é transformar a Petrobrás em uma empresa a serviço do mercado internacional e não dos interesses do país. É o caso, por exemplo, da política de conteúdo nacional, que ele diz na entrevista que precisa ser revista.
Quando Pedro Parente participou do governo FHC, as plataformas e equipamentos da Petrobrás eram encomendados no exterior. Em 2003, os contratos da empresa com os estaleiros brasileiros eram para apenas dois módulos de FPSO. Dez anos depois, a indústria naval tinha sob encomenda da estatal 08 cascos de navios, 04 conversões de cascos, 16 módulos de FPSO, 28 sondas e 40 navios.
A política de conteúdo nacional foi fundamental para alavancar a indústria brasileira e a economia do país, gerando empregos e investimentos no mercado interno e não no exterior, como defende Pedro Parente. Os números falam por si só. Os empregos da cadeia produtiva da indústria de petróleo se multiplicaram, só no setor naval aumentou em 26 vezes, saindo de 3 mil trabalhadores para 78 mil. Os reflexos sobre a economia foram imediatos: em 2003, os investimentos do setor representavam 3% do PIB, dez anos depois passaram a ser 13%.
É disso que se trata o golpe em curso no país e na Petrobrás. A missão de Pedro Parente é retomar o modelo econômico ultraliberal dos anos 90, focado nas privatizações, na redução do Estado, na flexibilização de direitos e na lucratividade do capital estrangeiro. O Pré-Sal e os ativos da Petrobrás são a moeda de troca do golpe. E Pedro Parente, o mercador.
FUP