Para o jornalista Paulo Henrique Amorim, “em nenhum outro país a imprensa dita comercial é tão partidarizada quanto no Brasil”. A opinião foi compartilhada em entrevista coletiva, concedida na noite desta segunda-feira, 22, em Natal-RN. A convite da ADURN – Sindicato (Docentes da UFRN) e do SINDIPETRO-RN, o jornalista esteve na capital potiguar para realizar uma concorrida palestra no Auditório da Escola de Música da UFRN e lançar seu mais recente livro: “O Quarto Poder – Uma Outra História”.
Segundo Paulo Henrique Amorim, que está completando 50 anos de jornalismo, “a imprensa brasileira sempre militou contra governantes de perfil trabalhista”. Dominada pelo que ele chama de “interesses da Casa Grande”, a mídia hegemônica age como um partido de oposição e consegue até mesmo “sequestrar a Justiça”. Isto, porque, para o jornalista, “o país vive um regime de perseguição política em que ninguém tem a presunção da inocência”. Para PHA, “a Lava Jato é conduzida pela Globo” e Ali Kamel (Diretor geral de jornalismo da TV Globo) é “o único brasileiro que tem poder comparável ao do Juiz Moro”.
Ao falar sobre as causas da partidarização da chamada grande mídia brasileira, Paulo Henrique Amorim não tergiversa. Em sua avaliação, “em nenhum outro país do mundo houve a covardia que aconteceu no Brasil, que foi não enfrentar essa imprensa hegemônica”. Segundo o jornalista, “todas as sociedades do mundo se preveniram; se protegeram contra o monopólio e o controle (privado) da mídia”, e esse é “o traço mais forte da nossa não Democracia”, não enfrentado pelos governos do PT.
Contraponto
Em outro polo, apresentando-se como um contraponto ao papel desempenhado pelo oligopólio midiático, encontram-se os blogueiros progressistas. Falando sobre a atuação e a situação vivida por esses jornalistas independentes, entre os quais se inclui, Paulo Henrique Amorim considera que eles “desempenham um papel relevante, mas não decisivo”. Para exemplificar, ele cita os casos envolvendo as declarações da ex-amante de Fernando Henrique Cardoso e o tríplex dos Marinho que, apesar dos indícios de tenebrosas transações, não provocaram desdobramentos significativos.
Na compreensão de Paulo Henrique Amorim, isso ocorre porque “ainda não há instrumentos e espaços capazes de fazer a contraposição”, e “nem foi criado um pensamento contrário, contraditório, capaz de enfrentar essa avalanche antidemocrática”. Acossado em cerca de 60 processos judiciais, PHA também denuncia o que chamou de “sistema de judicialização da censura”. Uma onda de perseguição judicial aos blogueiros progressistas, com o claro objetivo de calar essas vozes.
Para Paulo Henrique Amorim, no entanto, os dias de glória do Partido da Imprensa Golpista –expressão cunhada por ele para designar o oligopólio midiático – estão chegando ao fim. Não tanto pelo crescente descrédito com que os leitores e telespectadores vem brindando esses veículos. Para o jornalista, o fator principal a afetar o futuro da imprensa brasileira será a evolução tecnológica.
O que será decisivo, na opinião de PHA, será a entrada em operação e o crescimento de novos instrumentos e ferramentas, paralelamente à democratização da banda larga. “Esse processo – afirma o jornalista, vai criar uma competição para a Globo que não dará à emissora a receita necessária para pagar os custos de manutenção de sua programação”. Segundo PHA, “a audiência da Globo, hoje, não paga suas contas, e a emissora está vivendo das gorduras”.