Mais de duas mil pessoas que representam diversos segmentos do movimento social, sindical, estudantil e de partidos de esquerda do País se reuniram neste sábado (05/09) em Belo Horizonte para lançar a Frente Brasil Popular. Um dia de intenso debate marca a unificação da esquerda em defesa da democracia, contra a pauta conservadora e medidas de austeridade em curso no Congresso Nacional. A Conferência Nacional Popular, realizada no pátio da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou a primeira agenda de mobilização nacional para o dia 05 de outubro. 

A abertura do encontro contou com a participação da presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, e o presidente nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile. Estiveram na capital mineira dezenas de lideranças nacionais de entidades sociais, sindicais e de partidos políticos que comemoraram o lançamento da Frente. A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB esteve representada por dirigentes nacionais e estaduais.

A escolha da capital mineira para sediar o lançamento nacional da Frente Brasil Popular também coloca na trincheira os projetos em disputa no país. O presidente da CTB- Minas, Marcelino Rocha (foto), chama atenção para o poder simbólico de Minas Gerais, “um estado que derrotou fragorosamente o retrocesso em busca de avanços democráticos”, afirmou, referindo-se à rejeição do eleitorado mineiro ao então candidato presidencial Aécio Neves, no ano passado.

Além da defesa clara da democracia, contra o golpe planejado por setores reacionários brasileiros, os participantes bombardearam a política econômica de ajuste fiscal, corte de direitos e elevação dos juros. Carina Vitral apontou a necessidade de se fazer um contraponto ao movimento golpista no país. “As elites do país vão para as ruas defender a volta da ditatura militar e uma série de ideias conservadoras que nós não compactuamos. Essa frente é um contraponto não só para as políticas econômica do governo mas também às ideias conservadoras que a direita está levando para as ruas”, pontuou. 

Stédile comemorou a promessa de unificar o calendário de luta do movimento progressista no país, alertou para a crise que ocorre no mundo e os caminhos encontrados para supera-las.  “É indiscutível que a sociedade brasileira vive uma grave crise de caráter econômico e político. Frente à esta crise, as classes precisam apresentar propostas. A burguesia brasileira, o poder econômico, tem a sua proposta que é voltar ao neoliberalismo. É Estado mínimo, cortar ministério, cortar gastos sociais, elevar juros, e realinhar nossa economia aos Estados Unidos. Nós, como classe trabalhadora, somos contra a este projeto porque achamos que isso não vai tirar o Brasil da crise. Estamos aqui hoje para construirmos uma proposta da classe trabalhadora.”

Grupos de debate

Após a mesa de abertura os delegados e delegadas da Conferência se organizaram em oito grupos para debater os temas abordados para o enfrentamento político. Os eixos debatidos entre os grupos foram: a defesa dos direitos dos trabalhadores e dos direitos sociais; defesa da democracia e por outra política econômica; soberania nacional e processos de integração latino-americanos; reformas estruturais e populares.

Entre os participantes dos grupos de trabalho, a militância e dirigentes da CTB, parlamentares do PT, PCdoB, PMDB e PSB. Para a coordenadora geral do Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES) e dirigente da CTB, Gilda Almeida de Souza, a unidade é uma necessidade histórica para os movimentos sociais. “A CTB se integra totalmente a esta Frente, participando e sendo protagonista no processo de construção desse movimento.”

O jornalista e coordenador do Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé, Altamiro Borges, destaca a importância dos dois pontos centrais que unificam a criação da Frente, além do respeito irrestrito ao resultado das eleições de 2014.  “Daqui saem as principais bandeiras contra o retrocesso deste cerco midiático e judicial das organizações fascistas que poluem a sociedade brasileira. Outro ponto de unidade é de pressão por mudanças na política econômica, contra a ortodoxia neoliberal da política de juros e austeridade fiscal.”

Ao final do dia foi realizado um ato político com o pronunciamento dos representantes dos movimentos que integram a Frente. Novamente a defesa da democracia e a pressão por mudanças na política econômica foram lembradas pelas lideranças. O vice-presidente da CTB, Nivaldo Santana (acima) esteve no palco acompanhado pelos representantes de diversos segmentos. “Para combater as maquinações golpistas e defender a democracia é o melhor caminho para avançar no atendimento das nossas reivindicações. Para construir uma política econômica que valorize o trabalho, que distribua renda e que tenha como norte uma estratégia de desenvolvimento e não de ajustes recessivos”.   

O secretário de políticas sociais da CTB, Carlos Rogério Nunes (foto), coordenou o grupo de debate sobre Direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras. Na pauta de discussão, a melhoria das condições de vida, emprego, salário, aposentadoria, moradia, saúde, educação e transporte público.

Organizam a Frente a CTB, CUT, MST, Via campesina, MPA, MMC, MAB, MAM, MCP, FUP (Federação Única dos Petroleiros), CONEN, UNE, Levante Popular da Juventude, FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação), Consulta Popular, Marcha Mundial das Mulheres, Rede de Médicas/os Populares, Associação de Juízes pela Democracia, RENAP, SENGE-Rio, Sindicato de Professores, Metalúrgicos do RS, Pastorais Sociais, igrejas, Central de Movimentos Populares-CMP.

Música e cultura

Em diversos momentos do dia, as intervenções culturais embalaram as bandeiras de lutas. No início da noite, para encerrar a Conferência, foi lida uma poesia de cordel sobre a criação da Frente construída coletivamente. Logo após o compositor mineiro Pereira da Viola ecoou a canção que também dá vida a criação da Frente. “Esse é o nosso país. Essa é a nossa bandeira. É por amor a essa pátria, Brasil. Que a gente segue a fileira” diz um trecho da música.

Ao final de encontro, na agenda de ações estabelecida pela Frente Brasil Popular, ficou decidido um grande ato nacional em defesa da Petrobras, no dia 13 de outubro, data em que se comemora o aniversário da estatal. Para marcar o lançamento da frente, foi lido o Manifesto ao Povo Brasileiro. Confira abaixo: 

Manifesto ao Povo Brasileiro

Vivemos um momento de crise. Crise internacional do capitalismo, crise econômica e política em vários países vizinhos e no Brasil.

Correm grave perigo os direitos e as aspirações fundamentais do povo brasileiro: ao emprego, ao bem-estar social, às liberdades democráticas, à soberania nacional, à integração com os países vizinhos.

Para defender nossos direitos e aspirações, para defender a democracia e outra política econômica, para defender a soberania nacional e a integração regional, para defender transformações profundas em nosso país, milhares de brasileiros e brasileiras de todas as regiões do país, cidadãos e cidadãs, artistas, intelectuais, religiosos, parlamentares e governantes, assim como integrantes e representantes de movimentos populares, sindicais, partidos políticos e pastorais, indígenas e quilombolas, negros e negras, LGBT, mulheres e juventude, realizamos esta Conferência Nacional onde decidimos criar a Frente Brasil Popular.

Nossos objetivos são:

1- Defender os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras: melhorias das condições de vida, emprego, salário, aposentadoria, moradia, saúde, educação, terra e transporte público!

Lutamos contra o atual ajuste fiscal e contra todas as medidas que retiram direitos, eliminam empregos, reduzem salários, elevam tarifas de serviços públicos, estimulam a terceirização, ao tempo em que protegem a minoria rica. Defendemos uma política econômica voltada para o desenvolvimento com distribuição de renda.

Lutamos contra a especulação financeira nacional e internacional, que transfere para uma minoria, por vias legais ou ilegais, através da corrupção e de contas bancárias secretas, parte importante da riqueza produzida pelo povo brasileiro! Lutamos por uma reforma tributária que – por meio de medidas como o imposto sobre grandes fortunas e a auditoria da dívida – faça os ricos pagarem a conta da crise.

2.Ampliar a democracia e a participação popular nas decisões sobre o presente e o futuro de nosso país.

Lutamos contra o golpismo – parlamentar, judiciário ou midiático – que ameaça a vontade expressa pelo povo nas urnas, as liberdades democráticas e o caráter laico do Estado!

Lutamos por uma reforma política soberana e popular, que fortaleça a participação direta do povo nas decisões políticas do país, garanta a devida representação dos trabalhadores, negros e mulheres, impeça o sequestro da democracia pelo dinheiro e proíba o financiamento empresarial das campanhas eleitorais!

Lutamos contra a criminalização dos movimentos sociais e da política, contra a corrupção e a partidarização da justiça, contra a redução da maioridade penal e o extermínio da juventude pobre e negra das periferias, contra o machismo e a homofobia, contra o racismo e a violência que mata indígenas e quilombolas!

3. Promover reformas estruturais para construir um projeto nacional de desenvolvimento democrático e popular: reforma do Estado, reforma política, reforma do Poder Judiciário, reforma na segurança pública com desmilitarização das Polícias Militares, democratização dos meios de comunicação e da cultura, reforma urbana, reforma agrária, consolidação e universalização do Sistema Único de Saúde, reforma educacional e reforma tributária!

Lutamos pela democratização dos meios de comunicação de massa e pelo fortalecimento das mídias populares, para que o povo tenha acesso a uma informação plural, tal como está exposto na Lei da Mídia Democrática.

4.Defender a soberania nacional: o povo é o dono das riquezas naturais, que não podem ser entregues às transnacionais e seus sócios!

Lutamos em defesa da soberania energética, a começar pelo Pré-Sal, a Lei da Partilha, a Petrobras, o desenvolvimento de ciência e tecnologia, engenharia e de uma política de industrialização nacional!

Lutamos em defesa da soberania alimentar e em defesa do meio ambiente, sem o qual não haverá futuro.

Lutamos contra as forças do capital internacional, que tentam impedir e reverter a integração latino-americana.

Convidamos a todas e a todos que se identificam com esta plataforma a somar-se na construção da Frente Brasil Popular.

O povo brasileiro sabe que é fácil sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho. Mas sabe, também, que sonho que se sonha junto pode se tornar realidade.

Vamos lutar juntos por nossos sonhos!

Viva a Frente Brasil Popular!

Viva o povo brasileiro!

Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, Setembro de 2015


 

Por Mariana Arêas, de Belo Horizonte

Extraído do Portal da CTB