“Precisamos manter a integridade da Petrobrás, de forma a que a companhia possa continuar desempenhando o papel de líder no desenvolvimento nacional, bem como, proteger a engenharia brasileira, ameaçada de fragmentação e liquidação frente ao risco de uma concorrência externa desigual”. Este foi o principal chamamento feito pelo economista e professor José Carlos de Assis, em palestra realizada nesta quinta-feira, 19, no auditório da Escola de Música da UFRN, em Natal.
O evento, que teve por objetivo discutir “A importância da Petrobrás para o desenvolvimento nacional”, numa conjuntura marcada pelas incertezas decorrentes dos possíveis desdobramentos da “Operação Lava Jato”, também contou com a participação de um representante da Federação Única dos Petroleiros – FUP. A atividade foi promovida pelo SINDIPETRO-RN, em conjunto com o ADURN-Sindicato, Central Única dos Trabalhadores – CUT e Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB.
Compondo a mesa de abertura o vice-presidente da ADURN, Welligton Duarte, o coordenador-geral do SINDIPETRO-RN,
José Araújo, o presidente Estadual da CTB, Moacir Soares e o representante da CUT, Jailson Morais (Foto: Jana Sá)
Tirar proveito – Para o economista e professor José Carlos de Assis, interesses escusos estão tentando tirar proveito do processo de investigação da “Operação Lava Jato”. Ele diz que os ataques à Petrobrás, ao modelo de partilha, à política de conteúdo local e à aplicação exclusiva dos recursos do pré-sal em saúde e educação, bem como à engenharia brasileira e ao BNDES, não ocorrem por acaso. Segundo o professor, “tudo isso, faz parte de uma mesma agenda de desestruturação e privatização do Estado, em sua função de proteger a economia nacional”.
Além do petróleo e da cadeia produtiva que se estruturou em torno da exploração e produção dessa riqueza, responsável por 13% do PIB nacional, José Carlos de Assis está convencido de que um dos alvos perseguidos pelas forças desnacionalizantes e privatistas, internas e externas, é o mercado da construção pesada. Por isso, defende que os eventuais atos de corrupção praticados por dirigentes de empresas de engenharia fornecedoras da Petrobrás não devem ser estendidos às pessoas jurídicas.
Essas empresas, segundo José Carlos, são responsáveis pela geração de centenas de milhares de empregos; contribuem para a criação de tecnologia nacional e de amplas cadeias produtivas e de exportação de serviços, com reflexos positivos na balança comercial. “Se há irregularidade na relação destas com o Estado – afirma o professor, os culpados devem ser punidos, mas em nome do emprego, da renda e do equilíbrio do balanço de pagamentos, as empresas brasileiras devem ser preservadas”.
Resgate – Compondo a mesa com o professor José Carlos de Assis, o dirigente da Federação Única dos Petroleiros – FUP, José Antonio de Moraes, fez um resgate das lutas dos trabalhadores e do povo brasileiro em defesa da Petrobrás. Moraes lembrou que até mesmo a criação da Empresa ocorreu a contragosto das classes dominantes quando, durante o mandato do presidente Getúlio Vargas, tentaram derrubá-lo. “Vargas adiou o golpe ao cometer suicídio e, dez anos mais tarde, Jango teve a infelicidade de ser vítima da mesma situação”, lembrou.
Foto: Jana Sá
Moraes também destacou que as forças que, hoje, tentam tirar a credibilidade da Petrobrás são as mesmas que, durante os governos neoliberais promoveram diversos ataques à Companhia, enfrentados pelos trabalhadores. “Tivemos que reeditar a Campanha ‘O Petróleo é nosso!’, com o objetivo evitar a privatização da Empresa. A Petrobrás vinha sendo desmembrada, esquartejada, e tinha investimentos praticamente zerados. O efetivo foi reduzido de 60 mil para 32 mil trabalhadores no final do mandato de Fernando Henrique Cardoso”, frisou o diretor da FUP.
Segundo Moraes, foi a partir da eleição do presidente Lula que mais investimentos foram injetados na Petrobrás e, então, foi possível confirmar as suspeitas de seus geólogos sobre a existência do Pré-sal. “Apenas uma empresa nos moldes da Petrobrás, com o apoio do Governo, seria capaz de fazer tamanho investimento, em tão curto período de tempo, para desenvolver tecnologia e promover a exploração”, apontou.
Moraes argumentou ainda que, diferentemente de todos os ciclos econômicos que o Brasil atravessou, como o do ouro, em que o país pouco ou nenhum proveito tirou de suas riquezas, agora, a partir da adoção do modelo de partilha, essa lógica pode se modificar. “O marco regulatório do pré-sal nos garante benefícios a partir de sua exploração. Mas, sem Petrobrás – lembra Moraes, não tem fundo para a Educação. É preciso entender que a intenção da operação em curso não é combater a corrupção. Os propósitos são outros”.
Segundo o dirigente fupista, a disputa visa, principalmente, satisfazer interesses econômicos relacionados à exploração do pré-sal. “O que está sendo questionado, portanto, é quem deve ser beneficiado pela riqueza gerada pelo pré-sal: o povo brasileiro ou as empresas privadas?”, indaga Moraes. Para ele, a população precisa tomar consciência da real situação política e partir para a disputa nas ruas e nas redes sociais.