Vistas pelo governo de Jair Bolsonaro como inimigas a serem combatidas, as universidades públicas comprovam seu papel no desenvolvimento do país e de lugar de produção científica e tecnológica. Mesmo diante dos cortes orçamentários e ataques à sua imagem, as instituições federais de ensino superior no Brasil desenvolvem projetos de enfrentamento à Covid 19, que já registrou 34.000 mortes e mais de 723.000 infectados em todo o mundo. No Brasil, o Ministério da Saúde confirmou 4.256 infecções e 136 mortes por Coronavírus.

Apesar das dificuldades de manter os recursos humanos e materiais em decorrências dos cortes nos orçamentos, inúmeras ações estão em desenvolvimento nas universidades federais. Professores e estudantes se dividem em diversas frentes de trabalho.

Recentemente, o próprio ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta reconheceu durante uma videoconferência com empresários que as armas de combate ao novo Coronavírus no país estão nas universidades.

– Nós vamos lutar com as armas que a gente tem, e elas não são pequenas. O vírus é um inimigo duro ? É. Mas nós vamos ser uma adversário tinhosos dele. Vamos brigar. Temos central de produção, temos São Paulo, temos a USP, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, temos nossos laboratórios da Embrapa, a Fiocruz está dando um show…”, destacou Mandetta.

Auxílio no diagnóstico

Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais) auxilia no processo de diagnóstico e apoio ao laboratório central de saúde pública do estado do RN, o Lacen, que está sobrecarregado frente ao crescente número de casos suspeitos. O Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas (DACT), o Instituto de Medicina Tropical (IMT) e a Escola Multicampi de Ciências Médicas (EMCM), o Departamento de Infectologia (Dinfec) são algumas unidades integradas à essa força-tarefa.

Servidor da UFRN trabalha em testes no IMT – Foto: Glória Monteiro/Cedida

O Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) realiza entre 400 e 500 testes de diagnóstico do novo coronavírus por dia. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os pesquisadores nos laboratórios universitários têm capacidade de produzir 300 testes por dia – número que deve aumentar.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, vem produzindo kits para a realização de 30 mil testes diagnósticos da Covid-19.

Respiradores mecânicos

Com uma estimativa de que o país precise de mais de 20 mil ventiladores pulmonares mecânicos já nas próximas semanas, as universidades públicas brasileiras saem na frente em projetos para a manufatura desses equipamentos em tempo recorde e a custos bem mais baixos. A produção atual de ventiladores pelas empresas brasileiras é de 2.000 por mês, e mesmo com produção acelerada essas empresas não vão conseguir atender à demanda esperada.

Na Escola Politécnica da USP, um projeto em fase avançada vai permitir que empresas credenciadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária montem respiradores mecânicos ao custo de R$ 1 mil. Um respirador convencional não sai por menos de R$ 15 mil.

Na mesma linha, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estão desenvolvendo um protótipo de ventilador pulmonar mecânico para ser reproduzido em massa, de forma simples, rápida e barata, com recursos disponíveis no mercado nacional. Desenvolvido pelo Programa de Engenharia Biomédica do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) no Laboratório de Engenharia Pulmonar e Cardiovascular da Coppe, o equipamento poderá contribuir para suprir, emergencialmente, a crescente busca dos hospitais por esses aparelhos, em decorrência da pandemia causada pelo novo coronavírus.

Sequenciamento do genoma do vírus

Outra importante frente de trabalho para o controle viral foi desenvolvida pela equipe da professora Ester Sabino, coordenadora do Instituto de Medicina Tropical da USP. Em tempo recorde, a equipe fez o sequenciamento do genoma do vírus em apenas 48 horas, o que permite acompanhar as suas mutações.

Disponibilizada em bancos públicos, a descoberta permite que os dados possam ser usados em estudos científicos de combate à pandemia por pesquisadores de todo o mundo.

A fabricação de produtos essenciais para a prevenção e tratamento da doença também foi assumida pelas universidades públicas federais.

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