Como afirmou recentemente a agência Saiba Mais, a tendência geral da produção norte-rio-grandense da 3R Petroleum Óleo e Gás S.A., empresa que pretende substituir a Petrobrás no comando da indústria petrolífera potiguar, é de declínio. A edição do Boletim Mensal da Produção de Óleo e Gás publicado pela Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis – ANP, referente ao mês de janeiro-23, ainda não foi publicada, mas a própria empresa já divulgou baixas.

Segundo os dados informados pela 3R Petroleum, a produção total de janeiro dos Polos Macau, Areia Branca e Pescada-Arabaiana obteve média diária de 4.645 barris de óleo equivalente (óleo e gás). Em dezembro de 2022, o volume extraído nessas mesmas áreas havia alcançado uma média de 5.007 barris de óleo equivalente por dia (boe/d). Na comparação entre janeiro de 2023 e dezembro de 2022, houve uma queda geral de 7,2%.

Por Polo, os números divulgados pela 3R indicam recuo em todas as áreas onde a empresa atua. No Polo Macau, a produção em dezembro foi de 4.116 boe/d, caindo para 3.839 boe/d em janeiro, equivalente a – 6,7%. No Polo Areia Branca, que havia registrado produção de 492 boe/d em dezembro, houve diminuição para 463 boe/d, com variação de – 5,9%. Já em Pescada-Arabaiana, onde a 3R detém participação de 35%, a produção saiu de 399 boe/d para 343 boe/d, equivalente a -14%.

Em comunicado destinado a acionistas, investidores e ao mercado em geral, publicado em 14 de fevereiro, a 3R Petroleum procura explicar a queda de produção em território potiguar, afirmando que “o desempenho é justificado principalmente pelo Polo Macau”. De fato, a operação dessa área parece estar sendo problemática para a novata 3R Petroleum. Titular da concessão desde maio de 2020, o Polo Macau foi o primeiro a ser operado pela empresa em toda a sua história.

No período de um ano, a produção obtida nessa área despencou incríveis 44%. Saiu de 6.891 boe/d, em janeiro-22, para 3.839 boe/d, em janeiro-23. A 3R Petroleum alega que o resultado de Macau “permaneceu impactado por: i) atividades de calibração das plantas de separação de água-óleo; e ii) redução de vazão e fechamento temporário de alguns poços para substituição parcial do duto de escoamento que direciona a produção de CN-B ao Ativo Industrial de Guamaré, sendo a expectativa de conclusão mantida para o primeiro trimestre de 2023”.

Separação óleo-água

O problema da separação óleo-água e, consequentemente, da aferição dos volumes de óleo efetivamente extraídos dos campos do Polo Macau, já é do conhecimento da 3R Petroleum há quase um ano e meio. Em Fato Relevante publicado em setembro-21, a empresa informou que, no mês anterior (agosto-21), a produção de óleo em seus medidores foi de 6.590 barris por dia (bbl/d), enquanto que a produção fiscal, aferida após o processo de separação realizado pela Petrobrás, em Guamaré, registrou um volume efetivo de 4.709 bbl/d, ou seja: 39,9% de óleo a menos.

Na ocasião, a empresa se comprometeu com a Petrobrás em “implementar um processo de calibração dos sistemas de medição de todas as estações utilizando os mesmos parâmetros, bem como utilizar a mesma empresa especializada para mitigação de incertezas do sistema”, o que deveria ser concluído “até a primeira semana de outubro de 2021”. Paralelamente, a empresa informou que “encontra-se em andamento o projeto desenvolvido pela 3R para a construção das plantas de separação água-óleo para as duas estações coletoras do Polo Macau, com previsão de conclusão no segundo trimestre de 2022”.

Substituição de dutos

Já a tentativa de justificar a queda da produção alegando o fechamento temporário de poços e a redução de vazão para substituição parcial de um duto de escoamento demonstra que a 3R Petroleum ainda conhece muito pouco a área em que atua. Para o petroleiro aposentado e diretor do SINDIPETRO-RN, José (Dedé) Araújo, residente em Macau há quatro décadas, “a substituição parcial de um duto não serve como desculpa porque, na região, esse tipo de atividade deve ter caráter permanente”.

“Quem já visitou Macau ou tem informações mínimas sobre a nossa região, sabe que, em função do clima árido e da penetração da água do mar em regiões mais baixas, temos níveis elevados de salinidade, o que provoca corrosão acelerada de diversos tipos de estruturas, exigindo manutenção permanente”. Além disso – prossegue Dedé Araújo, “no Polo Macau temos vários poços direcionais, com estruturas literalmente submersas que, se não forem bem cuidadas, podem provocar desastres ambientais de proporções desconhecidas”.

Manutenção precária

Onde fomos parar?

Nos últimos quatro anos, a produção petrolífera brasileira assistiu a ascensão vertiginosa da hoje denominada 3R Petroleum Óleo e Gás S.A.. Microempresa em 2018, quando tentou comprar o Polo Riacho da Forquilha (RN) por 453,1 milhões de dólares, essa empresa detém atualmente 100% da concessão do Polo Macau (RN), 100% do Polo Areia Branca (RN), 35% do Polo Pescada-Arabaiana (RN), 100% do Polo Fazenda Belém (CE), 100% do Polo Rio Ventura (BA), 100% do Polo Candeias (BA), 85% do Polo Peroá (ES) e 53,1% do Polo Papa-Terra (RJ).

Como cereja do bolo, a 3R intenciona ainda adquirir 100% do chamado Polo Potiguar (RN), uma área que reúne 22 campos petrolíferos terrestres e marítimos com produção atual de 20 mil boe/d, e que inclui um grande, complexo e diversificado conjunto de instalações, com destaque para o Terminal Portuário, a Unidade de Processamento de Gás Natural e a Refinaria Potiguar “Clara Camarão”, todas sediadas em Guamaré (RN). O valor da transação acertado com a Petrobrás em janeiro-22 é de 1,38 bilhão de dólares, restando à ex-microempresa pagar, para fechar a compra, uma segunda parcela de 1 bilhão de dólares e outros 235 milhões de dólares, em quatro parcelas anuais.

Para chegar onde está, a 3R Petroleum Óleo e Gás S.A., com o apoio de bancos e fundos de investimento nacionais e estrangeiros, empreendeu um astucioso emaranhado de operações empresariais, financeiras e societárias, a fim de aproveitar a janela de oportunidades aberta com a política de desinvestimento (privatização) de ativos imposta à Petrobrás pelos governos Temer e Bolsonaro. A própria 3R Macau S.A., subsidiária da 3R Petroleum Óleo e Gás S.A., que detém a concessão desse Polo, era uma pequena empresa imobiliária (Bunaken RJ Empreendimentos Imobiliários S.A.) menos de um mês antes de assinar o contrato de compra e venda dos campos de Macau com a Petrobrás.

O mesmo “modus operandi” foi adotado com vistas à aquisição dos Polos Rio Ventura (BA) e Fazenda Belém (CE). Empresas do ramo imobiliário, sediadas no RJ, (Laguna Blanca RJ Administradora de Imóveis S.A. e Esparta RJ Empreendimentos Imobiliários S.A., respectivamente) foram adquiridas pela 3R Petroleum e tiveram sua denominação social alterada para SPE (Sociedade de Propósito Específico) a fim de participar da compra de ativos da Petrobrás.

O resultado, em Macau? Na prática, hoje, o Polo tem operações terceirizadas pela 3R Petroleum com a Pecom Energia, empresa ligada à argentina Peres Companc, em que trabalharam o ex-CEO da 3R, Ricardo Savini, e outros diretores. O CNPJ local da Pecom é de janeiro-20, quatro meses antes de a 3R fechar a compra e assumir a responsabilidade pela operação desse ativo anteriormente pertencente à Petrobrás.

Ferrugem e má conservação de equipamentos

Revisitar

Em novembro-18, quando a Petrobrás anunciou a venda do Polo Riacho da Forquilha (RN) para a 3R Petroleum, o então secretário-executivo da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Petróleo (ABPIP), Anabal Santos, afirmou “não ter detalhe sobre os sócios e sobre a empresa em si”. Em declaração concedida ao Jornal Tribuna do Norte, disse ainda que a 3R “é uma empresa sem histórico na área de produção de petróleo e não é associada à ABPIP”, e que a estatal havia cometido falhas, pois “não nos parece razoável que uma empresa faça uma oferta (pelo Polo Riacho da Forquilha) 300 vezes maior que seu patrimônio”.

Nessa mesma matéria, repercutindo declarações relacionadas ao caso, a TN destaca que o então diretor-presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia – CERNE, Jean Paul Prates, havia escrito em suas redes sociais que “fornecedores, trabalhadores e o Estado não podem estar inseguros quanto ao futuro do setor”. E, ainda, que “a ANP deve investigar o caso sob pena de prevaricação”.

Em janeiro-19, ainda sem respostas conclusivas da Petrobrás sobre o caso 3R Petroleum, o já recém-eleito senador pelo Rio Grande do Norte, Jean Paul Prates, afirmou ao Jornal De Fato que o Polo havia sido vendido para “uma empresa de papel”, cobrando novamente uma investigação da ANP. Três meses depois, em abril-19, a Petrobrás anuncia a venda de Riacho da Forquilha para outra empresa e, laconicamente, informa que a 3R havia sido “desclassificada”, mas, logo depois, em agosto-19, comunica que assinou contrato de compra e venda do Polo Macau com uma subsidiária da 3R (SPE 3R).

Mais recentemente, já como presidente da Petrobrás indicado pelo presidente Lula, Jean Paul Prates declarou que pretende “revisitar” contratos relacionados à aquisição de ativos da estatal. No entanto, para o coordenador geral do SINDIPETRO-RN, Ivis Corsino, é necessário um cuidado maior: “Esses contratos precisam ser auditados e as transações não concretizadas devem ser imediatamente suspensas, a fim de que sejam reavaliados aspectos jurídicos, financeiros e técnicos evidenciados pelo histórico de algumas empresas”.

“Sem essa atenção, corremos o risco de assistir, na indústria petrolífera do RN e também na de outros estados, o predomínio de uma atividade empresarial predadora, manipulada por especuladores interessados exclusivamente em sugar nossas riquezas, a fim de extrair delas o lucro máximo. Sem investimentos que proporcionem a retomada de níveis minimamente satisfatórios produção, sem compromisso com o desenvolvimento local e com a melhoria das condições de vida do nosso povo, corremos o risco de ter a situação atual do Polo Macau generalizada para todo o Estado”, concluiu Ivis Corsino.

Equipamentos deteriorados