O presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, concedeu a primeira entrevista coletiva como chefe da empresa nesta quinta-feira (2). Prates comentou sobre o Polo Potiguar e ratificou a suspensão de venda do Polo Potiguar, anunciada pela estatal nesta quarta (1º) após recebimento de ofício do Ministério de Minas e Energia.
“A questão do Polo Potiguar é um processo solicitado pelo governo federal de suspender. Não é anular, não é interromper, não é desfazer contrato. É suspender e isso vai nos dar uma oportunidade de rever alguns conceitos não só em relação a essa venda como em relação a outras”, disse Jean.
“Algumas [ações] já estavam em fase final, porém ainda sob responsabilidade da Petrobrás. Esses ativos, mesmo os que já estão em fase final de fechamento, não fecharam ainda”, comentou Prates, afirmando que questões como de responsabilidade ambiental e operacional ainda estão sob cuidados da Petrobrás.
O processo de venda do Polo Potiguar à iniciativa privada começou no ano passado, quando foi precificado em US$ 1,38 bilhão. A 3R Petroleum pagou US$ 110 milhões, enquanto US$ 1,04 bilhão seriam pagos no fechamento da operação e US$ 234 milhões em quatro parcelas anuais a partir de 2024.
Secretário geral do Sindicato dos Petroleiros e Petroleiras do RN (Sindipetro-RN), Pedro Lúcio Góis explica:
“Quem está operando o Polo Potiguar é a Petrobrás ainda. O que já foi vendido e não é impactado nisso: a venda do Polo Riacho da Forquilha, que foi vendido para a Potiguar E&P, já foi entregue e já está sendo operado pela Potiguar E&P, então não tem mais impacto, e a venda do Polo Macau, que foi vendido, entregue e está sendo operado pela 3R Petroleum”.
No caso do Polo Potiguar, que compreende os subpolos do Canto do Amaro, Alto do Rodrigues e Ubarana e também a Refinaria Potiguar Clara Camarão, o processo está em fase final da transação de venda.
“Ou seja, não tinha sido concluído. Por não ter sido concluído, está suspenso o processo conforme determinação do governo federal”, confirma o petroleiro.
Jean ainda descartou a reversão das vendas já concluídas.
“Aquilo que já foi vendido ninguém vai reverter, a não ser que quem comprou venha nos procurar para fazer alguma coisa. Mas nesse caso [do Polo Potiguar] vamos aproveitar a janela que o governo permitiu. O governo quer olhar esses ativos, então a gente está aproveitando para chamar os compradores, os potenciais compradores, conversar com eles, ver como eles se sentem diante da oferta que foi feita a eles e a gente vai ver”, apontou.
Política de preços vai mudar, diz Jean
O presidente da Petrobrás confirmou mudanças na política de preços da estatal e afirmou que o Preço de Paridade de Importação (PPI) “deixa de ser o único parâmetro” para a política de preços no Brasil. O PPI, mantido atualmente, é o que acompanha o valor praticado internacionalmente.
”O PPI foi essencial para os importadores, não quer dizer que foi para a Petrobrás. Houve uma decisão no passado de que a Petrobrás não tivesse mais a obrigação de suprir todos os mercados, como se fazia na época em que a empresa mantinha o monopólio da distribuição. Isso acabou. Se a empresa é mais competitiva em determinados mercados, por que eu tenho que aceitar fazer o preço do concorrente? Isso não é subsídio, é o melhor preço que a gente é capaz de praticar. Em qualquer produto é assim”, ressaltou.
Apesar de sinalizar com a mudança, Prates garantiu compromisso para que a empresa mantenha os resultados positivos.
“Não vou aniquilar ou canibalizar minha margem, Mas posso disputar o mercado com quem importa. Por que não? Intervencionista era o governo anterior que obrigava a praticar o preço do concorrente. Se é mercado, vamos jogar o jogo do mercado”, disse.
Briga no conselho
O governo mudou nesta quarta (1º) a lista de indicados ao conselho de administração da Petrobrás e adiou a assembleia de acionistas que elegerá o colegiado. A lista inicial foi elaborada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e gerou críticas de aliados do Planalto.
Ao ser questionado se Silveira estaria preterindo nomes indicados por Lula e colocando nomes do mercado financeiro, Prates se esquivou.
“Essa é uma pergunta que para mim é muito difícil responder. A questão do conselho é decidida pelos ministros mesmo. É o acionista majoritário quem decide. O presidente da república é o CEO do acionista majoritário, então ele tem mais autoridade do que ninguém. Agora, se ele constrói politicamente um acordo, pede sugestões, ouve sugestões, recebe recomendações, aí é uma questão de composição de governo, como qualquer acionista majoritário faria eventualmente”, disse o presidente da estatal.
“O ministro de Minas e Energia obviamente tem legitimidade por ser ministro de participar dessa escolha do conselho de administração. Ao longo desse tempo, houve várias construções, vazaram nomes, mas oficialmente o ofício que veio do Ministério para a Petrobrás para começar o processo veio agora. Todo o resto era especulativo”, continuou Jean.
Lula e mercado
Outro repórter citou os embates tidos nos últimos anos entre os ex-presidentes da Petrobrás e o governo federal, destacando a mudança atual, em que Jean possui afinidade e acordo econômico com Lula. O profissional também comentou sobre as idas de emissários do atual governo ao encontro de Jean, que causariam desconforto no mercado financeiro. Prates reivindicou a legitimidade de suas reuniões.
“Uma empresa estatal tem todo o direito de conversar com o presidente da República a hora que quiser, e o presidente tem o direito de me chamar na hora que quiser. Ele é o acionista majoritário. Ele é o CEO do acionista majoritário. O ministro de Minas e Energia tem o direito de entrar na Petrobrás a hora que quiser. Não tem nada de feio nisso. São os acionistas majoritários da empresa”, cravou.
Para o chefe da Petrobrás, a estatal vive sob um novo momento. Ele prometeu “inaugurar uma nova era em que isso seja naturalmente visto sem suspeitas de cara”.
Fonte: Agência Saiba Mais