A empresa 3R, que no início de junho comprou os campos de produção da Petrobras no Rio Grande do Norte, rescindiu o contrato para compra de vapor, que continuava sendo produzido pela Petrobras. Com isso, toda a estrutura do maior vaporduto do mundo, que possui 30 quilômetros de extensão, está parada desde o dia 30 de junho.

O vaporduto é uma linha de dutos que transportam o vapor que é produzido na Termelétrica Vale do Açu, que fica instalada em Alto do Rodrigues, e vai até os campos de produção de Alto do Rodrigues, Carnaubais e Assu.

A estrutura permite injetar vapor superaquecido nos campos para aumentar os volumes de produção de petróleo. Antes de parar, o vaporduto produzia, em média, 240 toneladas/hora de vapor.

A Termelétrica foi construída para a geração de energia elétrica, mas também tinha um propósito maior de produzir vapor.

A produção de vapor ocorre em razão das caldeiras que só funcionam se as turbinas funcionam (energia). É uma cogeração. O vapor por sua vez é injetado nos reservatórios de petróleo e permite uma recuperação (produção) maior do que se não houvesse vapor. A interrupção do vapor pode inviabilizar economicamente a produção de energia. Uma evidência flagrante da má concepção da venda dos campos em dissociada da térmica”, alerta Ivis Corsino, Coordenador-geral do Sindicato dos Petroleiros do RN (Sindpetro-RN).

Risco energético?

Com a rescisão do contrato de compra de vapor, que era produzido pela Petrobras, também ficou suspensa a produção de energia de toda a Termelétrica do Açu.

Ela precisa agora participar de leilões de energia e fechar contratos para o fornecimento. A energia que antes era gerada, era um “plus” da geração de vapor. Porém, o gás que é utilizado na térmica, vem do terminal de regaseificação do Pecem (CE). Outro ativo que fica impactado pela interrupção das atividades da térmica em Açu. O gás da 3R não está sendo suficiente nem para a planta de gás que possuem em Guamaré. Estamos com pouco gás no estado. Importamos”, alerta Ivis Corsino.

O sistema da Petrobras possui um gatilho de segurança para evitar o desabastecimento da rede de energia. Porém, a paralisação do vaporduto era importante para estabilizar a rede de produção de energia eólica dos parques do Rio Grande do Norte.

Do lado da 3R há sim um prejuízo, estamos falando de uma produção associada ao vapor de aproximadamente 5 mil barris. Como muitos poços estavam paralisados com a gestão anterior da Petrobras, a 3R está abrindo esses poços e compensando a produção associada ao vapor, mas em um horizonte muito curto a curva de produção vai declinar bastante”, avalia Ivis.

Recuperar campos que passaram do pico

Para a construção do vaporduto, em 2010, a Petrobras investiu 200 milhões de dólares, o equivalente a mais de R$ 1 bilhão. O vaporduto permite revitalizar campos de petróleo que já tinham passado pelo “pico” de exploração e começavam a entrar em fase de declínio.

A Usina Termelétrica Vale do Açu (UTE-VLA), de onde parte o vaporduto, possui potência instalada de 310,1 MW e entrou em operação comercial em setembro de 2008. A unidade tem capacidade de consumo diário de 2,3 milhões m³ de gás natural e conta com duas turbinas a gás, com uma potência aproximada de 155 MW em cada unidade geradora.

As turbinas operam em sistema de cogeração e tem capacidade de produção de 610 ton/h de vapor para os campos de petróleo da região.

A venda

As 27 plataformas de águas rasas, os 20 campos produtores de petróleo em terra, assim como a refinaria Clara Camarão foram compradas pela empresa 3R Petroleum. O processo de compra, assinado no início de 2022 ainda no governo Bolsonaro, foi concluído no dia 09 de junho.