A refinaria Clara Camarão, localizada em Guamaré, não consegue processar o petróleo bruto e transformá-lo em gasolina e diesel. A unidade, que foi comprada pela 3R da Petrobras, produz apenas querosene de aviação e, por isso, para abastecer os 60% do mercado interno pelo qual é responsável, a empresa importa gasolina e diesel dos Estados Unidos e da Europa. Daí resultaria a conta que faz do combustível vendido no Rio Grande do Norte o mais caro do país.
“O único produto que conseguimos entregar de maneira pronta ao mercado é o querosene de aviação. Os demais, hoje, dependem totalmente da importação e da cadeia logística de abastecimento internacional”, revela Kim Pedro, gerente de novos negócios da 3R.
A explicação acima é apenas um resumo do que foi discutido durante a audiência realizada na tarde desta terça (12), na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, organizada em conjunto pela Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento Socioeconômico, Meio Ambiente e Turismo, presidida por deputada estadual Divaneide Basílio (PT), e pela Comissão de Defesa do Consumidor, dos Direitos Humanos e Cidadania, presidida por Ubaldo Fernandes (PSDB).
“Eu sou de uma cidade que a Petrobras foi responsável por parte de seu desenvolvimento, especialmente no aspecto cultural. Confesso que me doeu na alma ver a bandeira da Petrobras sendo retirada da sede, na BR-304, como algo para nós que foi muito caro. Quem conhece a história de Mossoró e do Rio Grande do Norte sabe como a Petrobras foi importante pro crescimento de Mossoró e quando vemos o Pib [Produto Interno Bruto] hoje, observamos essa mudança“, lamentou a deputada Isolda Dantas (PT), que fez o requerimento que resultou na audiência.
Durante o encontro, o gerente de novos negócios da 3R também detalhou como a refinaria funciona, o que ela consegue produzir e como a dinâmica entre mercado interno e externo influencia nos preços praticados nas bombas dos postos de combustíveis.
“É uma unidade de refino que produz querosene de aviação nas condições que a ANP [Agência Nacional de Petróleo] exige para o consumidor. No caso do diesel e da gasolina, isso não é possível, o mais próximo que sai é uma Nafta NDD e o diesel é de alto enxofre, que também não podemos consumir. O modus operandi atual não muda em relação ao anterior a junho, o antigo operador também trazia de fora do seu sistema o diesel e gasolina fornecidos através do Polo de Guamaré. É importado o diesel S10, que é misturado àquele de alto enxofre produzido pela refinaria, e é importada a gasolina nos padrões da ANP para revender às distribuidoras. Hoje, empresa adapta instalações para receber gasolina aditivada ou premium para que possa receber essa nafta para que ela não saia e fique aqui, para incorporar à mistura”, detalhou Pedro.
A 3R assumiu o Polo Potiguar há cerca de três meses e entre junho e julho viu a arrecadação da empresa subir de R$ 13 milhões para R$ 20 milhões, segundo dados apresentados durante a audiência.
A compra foi concluída no dia 7 de julho deste ano. A 3R existe há 10 anos e chegou ao RN em 2019, com a compra do polo de Macau. Atualmente, a empresa já soma um total de oito aquisições em terras potiguares, o que representa 50% dos investimentos e pessoal da empresa, que está presente em cinco estados.
“Isso traduz a relevância e importância que o Rio Grande do Norte tem para a companhia”, frisou Pedro, que além de pagar mais caro pelos derivados do petróleo no mercado internacional, também apontou outros fatores que inflacionariam os preços no mercado local, como a logística internacional com o frete marítimo, a variação do dólar e custos de internalização para a entrega dos derivados do petróleo às distribuidoras.
“Em junho, quando 3R adquiriu o Polo Potiguar e Guamaré, houve uma oscilação de 30% do diesel nos EUA e Europa, além de algo em torno de 30% a 48% nos fretes”, justificou o representante da 3R.
Passadas as primeiras explicações, o representante do Sindicato dos Petroleiros do RN (Sindpetro-RN) levantou alguns questionamentos que podem ajudar o potiguar não apenas a entender o que está acontecendo com o preço do diesel e da gasolina no estado, como a pressionar por mudanças.
“Por alguma razão, vemos uma redução na produção de derivados. Dentre algumas mudanças na gestão com a entrada da 3R, que tem toda legitimidade para fazer sua administração, chama nossa atenção a queda de produção de derivados de petróleo na Clara Camarão… Nessa cadeia do petróleo é preciso compreender algumas coisas, uma delas é saber de onde vem o suprimento de gasolina e diesel da 3R, já que ela responde pelo abastecimento de 60% da demanda local? Estamos comprando dos Estados Unidos? Da Europa? Da própria Petrobras?”, provocou Ivis Corsino, Coordenador-geral do Sindpetro, que também observou a contradição com a queda do custo de importação por metro cúbico no mercado internacional, e aumento no RN.
“Na Bahia, os árabes assinaram com a Petrobras um termo de intenção de produzir biocombustíveis, temos essa possibilidade na 3R?… Quando observamos o movimento, vemos uma grande exportação de óleo e uma grande importação de derivados, será esse o melhor para o Rio Grande do Norte? É preciso pensar numa solução para o RN. São legítimas as estratégias corporativas da 3R, mas como sociedade potiguar, nós precisamos entender o que é melhor. A refinaria Clara Camarão não pode funcionar como um atravessador dos derivados fornecidos ao RN, ela tem que funcionar como uma unidade de refino… qual o planejamento da 3R para a refinaria Clara Camarão?”, voltou a questionar Ivis Corsino.
Durante o encontro, o representante do sindicato dos postos de combustíveis defendeu que a categoria não era a responsável pelo elevado preço da gasolina no RN.
“Muitas vezes o revendedor é o culpado d epraticar preços altos, mas o posto é o último elo da cadeia, que se inicia com a refinaria, que hoje é a 3R, passa pelas distribuidoras e usinas de etanol, que compõem 27% do preço da gasolina, então, no final, é que chega ao posto, que é um mero repassador do produto onde, muitas vezes, trabalha com uma margem de 8% e aquele revendedor que é capitalizado, dono de rede, vai chegar a uma margem de 15%…16% e não vejo nada demais numa margem dessa”, comentou Maxwell Flor, Sindpostos, que lamentou a ausência de das distribuidoras e detalhou por que os postos localizados em Natal não compram combustível mais barato em estados vizinhos.
“Os preços praticados pelos postos acompanham os preços praticados pelas distribuidoras. Para comprar gasolina mais barata, existe uma questão logística e de quotas com as outras empresas, não adianta querer comprar no CE ou PB porque eles são suprir o mercado local primeiro, postos não podem comprar das refinarias, mas das distribuidoras”, justificou Maxwell Flor.
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Fonte: Agência Saiba Mais