Nesta quarta-feira (4), organizações sociais e movimentos chilenos celebraram os 43 anos da chegada do presidente Salvador Allende ao poder. Para marcar a data, as secretarias de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e do Partido dos Trabalhadores (PT) realizaram um debate com a presença do sociólogo Emir Sader com o objetivo de compreender a experiência chilena e usá-la como um aprendizado para as esquerdas latino-americanas.
“Criar uma sociedade humana, que assegure a cada família, cada homem ou mulher, a cada jovem e a cada criança: direitos, títulos, liberdade e esperança”. Esta era a proposta de Allende como ele mesmo definiu em um de seus muitos discursos dirigidos ao povo.

Emir Sader, que perseguido pela ditadura militar brasileira se exilou no país entre 1970 e 1973, observou que o dilema do Chile de Allende às vésperas do golpe de 1973 era se a experiência avançava ou se consolidava. Naquela altura, “ninguém poderia falar que o programa não era socialista porque senão seria uma traição a bandeiras históricas. Em uma autocrítica, depois se verificou que talvez fosse o momento de fazer ali uma etapa democrática avançada para reformular a plataforma e tentar ganhar outros setores”.

Na eleição de 1973, houve a última tentativa da direita de dar um “golpe branco” e destituir Allende via Congresso. Para isso, precisariam ter 2/3 dos votos. Na verdade, a Unidade Popular, coalizão partidária de esquerda, conquistou 42% dos votos “mesmo com toda a questão de desabastecimento, greve dos caminhoneiros, terrorismo”, ressaltou o sociólogo.

“O Partido Socialista era um partido de esquerda e o lema era ‘avançar sem conciliar’. Havia um processo de radicalização, mas ao não conquistar a classe média, isso em um país de tradicional presença da classe média”, enfraqueceu o projeto, avaliou Emir. 

“Somente agora, com o movimento estudantil é que a herança de Allende foi novamente reivindicada. E ele foi uma figura fantástica, um pacifista. A questão que fica para nós é: como ganhar o poder sem ser hegemônico”, refletiu o professor da UFRJ.

O Chile enfrentou, como outros países da América Latina atualmente enfrentam, problemas com o caráter conservador do poder judiciário. “Eles estavam cercados: pela mídia, pelos Estados Unidos e pelo judiciário. E o judiciário foi decisivo por embargar tudo e inviabilizar qualquer transformação maior. O Congresso legitimava o que o judiciário determinava”, pontuou. “Como você ia expropriar coisas com a legislação vigente?” este era o drama chileno.

Complementando a exposição, o secretário de Relações Internacionais do PCdoB, Ricardo Alemão Abreu, ressaltou “que o partido comunista também fez sua autocrítica aprovando a experiência brasileira como referência para as políticas atuais”. No último congresso, aprovaram a tática de alianças com a Democracia Cristã, com a Concertação. “E isso deverá se verificar agora na eleição de Michele Bachelet para um novo mandato no país”, sublinhou o comunista.

Por Vanessa Silva, do Portal Vermelho