No último dia 30 de setembro, a Petrobras assinou o contrato de venda de dois campos da Bacia terrestre Potiguar. Pela operação, a estatal recebeu US$ 7,2 milhões e, segundo comunicado, ela está “alinhada à otimização do portfólio e à melhoria de alocação do capital da companhia, visando a geração de valor para os nossos acionistas”.

A transação dos campos atende ao novo princípio estratégico da Petrobras de focar sua atuação na área de exploração e produção do pré-sal e no downstream da região sudeste. Além disso, a empresa argumenta que novas empresas mais especializadas na exploração de petróleo em terra poderiam aumentar a eficiência da produção gerando maiores benefícios econômicos para as regiões envolvidas. 

Embora seja compreensível que, no longo prazo, a Petrobras se dedique progressivamente aos campos offshore, principalmente do pré-sal, tal mudança de rota abrupta da companhia associada à timidez dos investimentos privados deve levar a um resultado contrário ao pretendido. Isto é, ao invés de uma melhora dos resultados econômicos, o que tem se observado é uma piora acelerada dos indicadores do setor nas regiões de produção de terra.

Em recente estudo, o Ineep mostrou que nos últimos quatro anos, houve a demissão de cerca de sete mil funcionários das áreas de exploração e produção do nordeste, sua maior parte atuando em terra. Além disso, no mesmo período, a média salarial dessa força de trabalho se reduziu em aproximadamente 17%.

Essa queda poderia ser efeito de um ajuste temporário para melhorar a eficiência de produção da região. Todavia, no Rio Grande do Norte, por exemplo, a produção tem despencado continuamente desde 2013, saindo de 53 mil para 36 mil barris por dia. Nesse período, a produção da Petrobras no estado diminuiu 18 mil barris por dia (caiu de 52 mil para 34 mil). Enquanto isso, a produção do setor privado, que é muito menor, teve um aumento que nem de longe compensou essa queda, subindo de mil para dois mil barris por dia.  

Esses dados evidenciam que, apesar da queda na força de trabalho e da forte transferência de ativos para o setor privado, a produtividade declinou no período em razão da queda de produção, o que reforça a incapacidade de as empresas privadas ocuparem o espaço da estatal num curto espaço de tempo. 

É importante notar que a atuação do capital privado pode ser importante para complementar a posição da Petrobras e auxiliar numa transição de longo prazo. No entanto, a estratégia de saída abrupta da Petrobras, levando-se em conta a inexistência de empresas privadas com grande potencial de investimentos nas áreas terrestres, tende a agravar a situação. E, ao invés de uma transição de longo prazo, o que ocorrerá será a destruição de uma cadeia inteira de produção no curto prazo.

[Blog do INEEP]