Com a assertiva de que a realidade geopolítica mundial apresenta a segurança energética como estratégica na garantia da soberania de uma nação, o geólogo e ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, responsável pela descoberta das enormes reservas de pré-sal no Brasil, em 2007, Guilherme Estrella, participou na noite de ontem, 28, da segunda edição do projeto Na Trilha da Democracia.

Promovida pelo ADURN-Sindicato, SINDIPETRO-RN e Frente Brasil Popular, a iniciativa reuniu mais de 500 pessoas no auditório Otto Brito de Guerra, prédio da Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Estudantes, professores, juristas, geólogos, trabalhadores petroleiros e de outras categorias profissionais, parlamentares e lideranças dos movimentos sociais e sindicais, tiveram a oportunidade de discutir o papel estratégico da Petrobras na economia do Brasil e geopolítica mundial a partir da visão de uma testemunha privilegiada.

Conhecido por sua firme e intransigente postura em defesa da soberania nacional e afirmação da empresa brasileira de capital nacional, Guilherme Estrella apresentou o pré-sal brasileiro como “uma das mais importantes e estratégicas riquezas da nossa pátria, absolutamente indispensável para que o Brasil, como nação soberana e detentora real de autonomia de decisão, se desenvolva social, econômica, tecnológica e politicamente”.

Para Estrella, a energia, referindo-se ao petróleo e gás natural, é ponto central da soberania de qualquer nação importante no mundo, como o Brasil. Dessa forma, o geólogo denunciou as tentativas de desconstrução não só da Petrobras, mas do Brasil.

Ao detalhar todo o processo que levou à descoberta do petróleo em águas profundas, Estrella ressaltou que todos os méritos são da petroleira brasileira e opina a importância do caráter público da companhia. “Uma empresa privada não faria o que a Petrobrás fez”.

Ao tratar da dificuldade financeira da Petrobrás, o geólogo defende que esta é também uma questão de governo, já que a saúde da estatal diz respeito à soberania do país construída ao longo dos últimos anos.

Estrella chamou atenção para o exemplo americano, que na crise de 2008 aplicou capital em grandes corporações, por considerá-las estratégicas para a soberania norte-americana. “O governo brasileiro tem essa obrigação [em relação à Petrobrás], [por ser uma] empresa estratégica do Brasil, que não pode ficar sendo pressionada pelo mercado, não pode ser governada pelo mercado, é uma empresa estratégica de soberania nacional”.

“O caso da dívida da Petrobras tem que ser olhado sob esse ângulo também [de preservar todo o patrimônio que foi construído nos últimos anos. Na minha opinião, pessoal, esse é um problema do Brasil, do governo brasileiro, não é só da Petrobras”, ressaltou Estrella.  “Nós saímos de uma situação absolutamente dependente em 2002 para uma situação de soberania absoluta em termos de energia e de construção de uma infraestrutura energética para o desenvolvimento industrial brasileiro”, completou.

Ao falar sobre a atual conjuntura política vivenciada pelo país, o geólogo avaliou que o cenário implica a necessidade de se pensar estrategicamente, para não pôr em xeque a soberania nacional. “Estamos a assistir um profundo período de mudanças. É necessário que o Brasil enfrente um processo de construção firme e irreversível desta sua nova, inusitada e inalienável missão. Dentro desta perspectiva, o efetivo controle, a gestão e a operação de produção de energia no país devem estar nas mãos do Estado nacional e de empresas genuinamente brasileiras”, ressaltou.

Estrella abordou, na ocasião, a importância da trajetória firmada a partir de 2003 na Petrobras, para tirar o país de uma posição de dependência para uma posição de país soberano. “O Brasil passa de um simples observador da cena mundial para um protagonista geopolitico mundial no século XXI”, afirmou. Em sua avaliação, os extraordinários resultados empresariais da Petrobras na última década, como de resto ao longo de seus mais de 60 anos, “desmascaram e põem a nu os reais objetivos desta campanha lesa-pátria em que insistem os poderosos defensores de interesses não brasileiros na tentativa de desestabilizar a Petrobras e o Brasil”.

Guilherme Estrella entrou na Petrobras em 1965, como geólogo de poço de petróleo na área de Exploração e Produção (E&P). Mais tarde, em 1977, quando era gerente de Exploração da Braspetro no Iraque, foi um dos responsáveis pela descoberta do gigantesco campo de Majnoon naquele país — que na época se estimava que produziria mais de 1 milhão de barris por dia. Anos depois, o Iraque foi invadido e ocupado por tropas estrangeiras por causa do campo de Majnoon.

Estrella se aposentou em 1993, mas foi convidado no primeiro ano do governo Lula, em 2003, para assumir o cargo de diretor da área de E&P, quando a estatal começava a abraçar grandes projetos e deixar de lado a política do governo anterior, que era voltada para um esforço de redução da participação da estatal no mercado de petróleo internacional, para deixar 60% do mercado para o capital estrangeiro. 

“A situação do endividamento da companhia, na minha opinião, se deve (…) a grandes investimentos da Petrobras, depois do governo Lula, isso é importante dizer. Porque até 2002, com a queda do monopólio, a Petrobras foi reduzida na sua participação no setor petrolífero nacional”, destacou Estrella.

“Assumimos a diretoria e ficou muito claro que a Petrobras teria que reassumir o seu papel de condutora do setor petrolífero nacional, hegemonicamente, como era antes”, afirmou. “Mudamos de um país dependente, em 2002, para um país completamente autossuficiente, e não momentaneamente, autossuficiente para todo o século 21, em termos de combustível, com condições de ganhar autossuficiência em outras áreas.”

O geólogo trabalhou na Petrobras por mais de 40 anos, quando exerceu vários cargos no Brasil e no exterior. De 2003 a 2012, foi diretor de exploração e produção da estatal. Foi neste período que a Petrobras e o governo federal divulgaram as informações sobre as imensas reservas brasileiras de petróleo e gás em águas profundas, o que valeu a Estrella a designação de “descobridor do pré-sal” ou “pai do pré-sal”.