Os resultados da Petrobrás em 2017, anunciados na última quinta-feira, 15, comprovam que a empresa está retrocedendo a passos largos e comprometendo cada vez mais o seu futuro. Ao contrário do que Pedro Parente afirmou, o prejuízo de R$ 446 milhões que a companhia registrou não teve como principal causa despesas extraordinárias efetuadas nos últimos meses do ano, como o pagamento de R$ 11,198 bilhões aos acionistas norte-americanos beneficiados pelo questionável “acordo” que atendeu, principalmente, aos interesses dos fundos abutres.
“O balanço reflete os problemas de gestão da Petrobrás”, afirmou o economista Eduardo Pinto, um dos pesquisadores do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (INEEP), durante Análise Crítica dos resultados da empresa, realizada nesta quinta, em parceria com a Carta Capital, e transmitida ao vivo pela Web TV da revista e pelo Facebook da FUP. O evento integrou a programação do Fórum Social Mundial e contou também com a participação do economista Rodrigo Leão, coordenador do INEEP, do petroleiro José Maria Rangel, coordenador geral da FUP, e do jornalista Sérgio Lirio, que mediou o bate papo entre os debatedores e os internautas. Assista no final da matéria o vídeo com a íntegra da análise.
O desmonte do parque de refino e as privatizações estão fazendo a Petrobrás perder mercado, o que reflete diretamente na sua capacidade de gerar receitas, alertaram os economistas. Os números da empresa falam por si só. O lucro operacional do refino despencou 42% em 2017. A produção de derivados caiu 5% e as vendas despencaram 6%, apesar do país ter registrado aumento de 1% no consumo de derivados. A geração de caixa no refino, no transporte e na comercialização de derivados caiu R$ 18,9 bilhões. Ou seja, enquanto a gestão Pedro Parente desmonta o setor de refino e a logística da empresa, as importadoras de derivados fazem a festa.
“Em curto e médio prazo, a Petrobrás caminha para se tornar uma empresa que só produz no pré-sal e que só exporta petróleo, abrindo mão de outros segmentos, na direção inversa das grandes empresas do setor”, destacou Rodrigo Leão. Em 2017, a Petrobrás aumentou em 23% a exportação de óleo cru, mas os resultados da empresa apontam que, apesar do aumento de mais de 15% dos preços internacionais do barril de petróleo, as exportações não compensaram as perdas amargadas com o refino e a quebra da integração da companhia. “Exportamos petróleo cru e aumentamos as importações de derivados. A gestão Pedro Parente está tornando o país dependente do mercado internacional”, criticou Rodrigo.
Outro indicador ressaltado pelos pesquisadores do INEEP foi a estagnação da produção de petróleo, mesmo com o aumento da produtividade do pré-sal. Entre 2016 e 2017, a Petrobrás registrou queda de 1% na produção de petróleo e gás natural, principalmente em função da venda de ativos e da redução de investimentos em campos maduros. Na Bacia de Campos, por exemplo, houve uma redução de 14% na produção, que caiu de 1,66 milhões de barris diários de petróleo para 1,43 milhões de barris.
“A Petrobrás está sendo gerida como uma empresa que não pensa em longo prazo e isso é um suicídio para as empresas de petróleo”, criticou o coordenador da FUP, José Maria Rangel, ressaltando que, com a abertura da exploração do pré-sal, a estatal brasileira corre o risco também de perder o protagonismo na exploração e produção de petróleo. “O Brasil caminha a passos largos para voltar a ser um ator secundário no setor de óleo e gás. Se não estancarmos essa sangria, o país vai passar por um processo de desindustrialização profundo”, alertou José Maria lembrando que a Petrobrás já chegou a responder por 13% do PIB nacional e teve a capacidade de desenvolver todas as regiões do país, gerando empregos e renda no Brasil e não no exterior, como está acontecendo agora.
FUP