A VII Plenária Nacional da Federação Única dos Petroleiros – FUP (Plenafup), que está sendo realizada no Rio de Janeiro, teve continuidade na manhã desta sexta-feira, 3, com a realização do painel intitulado “Mobilizar e ampliar o diálogo com a sociedade”. O evento contou com intervenções do historiador Paulo Fontes; do coordenador do MST, João Pedro Stédile; e dos dirigentes sindicais Júlio Turra (CUT) e Divanilton Pereira (CTB).

Para o historiador Paulo Fontes, que apresentou um panorama sobre a formação do campo de estudos relativo à história social do trabalho no Brasil, é necessário buscar uma maior interação da Academia com o movimento sindical e os movimentos sociais. Paulo reconhece que “enquanto disciplina acadêmica, a História demorou muito a dar legitimidade intelectual aos temas do mundo do trabalho”, mas também entende que esse processo está sendo superado, conquanto existam resistências.

Citando como exemplos os equívocos relacionados à periodização da história do trabalho no Brasil, que apaga 400 anos de escravidão e, também, a tendência do movimento sindical de ver o processo histórico apenas como um calendário de efemérides, e não como elemento vital de sua própria construção política, Paulo Fontes defende que é necessário diminuir o distanciamento entre os movimentos e a academia, a fim de que esses e outros problemas importantes possam ser superados.

Reflexões e desafios

Optando por uma mudança de enfoque, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, João Pedro Stédile, abordou o tema do painel (Mobilizar e ampliar o diálogo com a sociedade) compartilhando reflexões sobre o momento em que vivemos e os desafios da classe trabalhadora brasileira. Assim, para Stédile, o modo de produção capitalista hoje hegemonizado pelo capital financeiro vive uma intensa crise desde 2008, e o Brasil, totalmente dependente do capital estrangeiro, não poderia ficar imune.

Para o coordenador do MST, no entanto, para além dos problemas econômicos, o país assiste a uma crise do Estado burguês industrial e a uma crise civilizatória. “O Estado atual – lembra Stédile, foi gestado como regulador das contradições entre capital e trabalho para que a burguesia pudesse extorquir pacificamente a mais-valia”. No entanto, em sua opinião, “esse Estado já não funciona mais, e nem serve aos interesses do capital financeiro, fazendo com que, inclusive, a falsa democracia burguesa comece a ser questionada pela própria população”.

Já, a crise civilizatória, ainda na opinião de Stédile, manifesta-se como conflito um de valores, onde solidariedade, igualdade e justiça vão dando lugar ao egoísmo, ao consumismo, ao individualismo e às injustiças, gerando conflitos que a institucionalidade burguesa já não consegue responder. É nesse sentido, então, que Stédile cita quatro desafios históricos que, em sua opinião, constituem tarefas permanentes das organizações da classe trabalhadora: a) fazer o trabalho de base; b) construir nossos próprios meios de comunicação; c) desenvolver a formação política-ideológica; e, d) construir um projeto popular para o Brasil.

Unidade e luta política

Com uma abordagem em que privilegiou o posicionamento em relação a pontos considerados polêmicos, preferindo acentuar divergências e marcar posição em defesa de suas próprias convicções, o diretor executivo da Central Única dos Trabalhadores – CUT, Júlio Turra, fez uma retrospectiva da trajetória da organização sindical dos trabalhadores brasileiros, para defender a importância da luta política contra o capital.

Segundo Turra, que dividiu essa trajetória em três momentos, é apenas na terceira e última fase, iniciada com as grandes greves do fim dos anos 70 e início dos anos de 80, em que a CUT surgiu com a missão de superar os modelos anteriores, que a luta política contra o capital passa a adquirir relevância, embora a Central não tenha conseguido se desvencilhar de muitas concepções e práticas por ele consideradas equivocadas.

Já, para o presidente em exercício da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB, Divanilton Pereira, que, em sintonia com as exigências do momento político optou por dar maior relevo em sua fala aos pontos de unidade e convergência, os petroleiros têm uma marca acentuada até mesmo pela natureza da atividade econômica que desempenham: “faz parte de sua história dar centralidade à luta política”.

Assim, sem perder de vista a temática do painel, Divanilton considera que a disputa em curso, contra o neocolonialismo e pela afirmação de uma nação soberana, “não é uma tarefa simples e nem para poucos ou muito menos apenas para o movimento sindical”. E para alcançar esses objetivos estratégicos, o dirigente defende que a categoria petroleira “estabeleça um diálogo mais amplo com a sociedade, para além do movimento sindical, a fim de ganharmos pela quinta vez consecutiva a disputa presidencial”.

Ao final, referindo-se à necessidade de que a unidade de amplas forças políticas e sociais tenha por base um programa, Divanilton enfatiza que “a CTB valoriza bastante o esforço realizado pelas sete centrais sindicais, todas com muitas diferenças, mas que apresentam 22 propostas na Agenda Prioritária que dialoga com a Plenafup porque nesta pauta está inserida a luta pela soberania, democracia, investimento público e valorização do trabalho”.