por Marcio Dias – Diretor do SINDIPETRO-RN
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“Os homens fazem sua própria história; contudo não a fazem de livre e espontânea
vontade, pois não são eles quem escolhem as circunstâncias sobre as quais ela é feita,
mas estas lhes foram transmitidas assim como se encontram.” – Karl Marx
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No final de semana passado encerraram-se a apuração das eleições da União Europeia,
a UE, cujos resultados mostraram um preocupante avanço da extrema direita. São
partidos ultranacionalistas, ultrapopulistas, antiglobalistas, eurocentristas, reacionários e
conservadores que tiveram grande desempenho, principalmente, nos três mais
importantes e poderosos países da União Europeia: Alemanha, França e Itália.

Porém, isso não tem nada de novidade, uma vez que já a algum tempo a direita e a
extrema direita vem se articulando e galgando mais e mais espaços pelos mundo afora
devido inúmeros fatores, entre os quais o sentimento de frustração com a democracia,
ódio racial contra imigrantes e outras minorias, ódio religioso e crise capitalista cada vez
aguda na maioria dos países.

No entanto, observando tal acontecimento lembro que foi devido a sentimentos
semelhantes de crise e desilusão que Hitler e seus capangas impuseram a ideologia
nazista e conquistaram o poder na Alemanha. Como bem sabemos, foi uma das tiranias
mais cruéis, sanguinárias e perversas que já existiu e a humanidade afundou em uma
das guerras mais sangrentas e miseráveis da sua história.

Ao que parece, a tragédia nazista não foi suficiente para as pessoas seguidoras dessas
ideias obscuras compreenderem o significado dessa tragédia, ou, como costumam dizer,
o povo tem a memória tão curta que não aprendeu nada com os equívocos do passado
e, como bem disse Karl Max em sua celebre frase, “A história se repete, a primeira vez
como tragédia, e a segunda como farsa”. Portanto, a lição que se tira é que não basta
conhecer os acontecimentos, é preciso lutar para evitá-los e não cometer os mesmos
erros no presente e no futuro.

O fato é em meio a uma situação de crescentes dificuldades, e, severamente
manipulado pela mídia e redes sociais e insatisfeitos com os governos de plantão, o
povo não consegue enxergar a luta de classes e, consequentemente, as verdadeiras
causas dos seus problemas políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais da
atualidade.

Sem conseguir compreender o processo político e sob chantagens, falsos discursos e
argumentos mentirosos dos EUA e seus aliados de que é preciso expandir a OTAN para
proteger a Europa e o mundo das ameaças russa e chinesa, o povo segue sendo sugado
para o fundo da crise capitalista e para a guerra tal como estamos vendo acontecer.

Para os EUA a guerra total é a única saída para a crise do sistema e para poder resgatar o
seu hegemonismo unilateral visando fazer valer seus interesses de continuar impondo a
ditadura do dólar. Entretanto, observando mais de perto o que está acontecendo,
podemos compreender que os resultados eleitorais da UE não expressam, como
querem fazer crer, uma “vitória” da extrema direita e uma derrota da esquerda. Na
verdade, tais resultados revelam o descontentamento popular com a UE, o medo da
guerra e da crise econômica cada vez mais aguda no velho continente. O voto na
extrema direita, portanto, é um voto de protesto contra os partidos no poder que não
apresentam soluções para resolver tal situação.

Esse avanço da extrema direita do ponto de vista mais geral não mudará a atual
correlação de forças no parlamento europeu, mas, as políticas relacionadas à imigração,
combate às mudanças climáticas, o apoio a Ucrânia e o próprio futuro da UE sofrerão
grande pressão e, certamente, poderão ser rediscutidos. Ao fim e ao cabo, a Europa,
seguirá dominada pelas forças políticas que não tem solução para seus graves
problemas, a agenda dos trabalhadores enfrentará mais resistências e o velho
continente continuará submisso aos interesses dos EUA.

Em tempos de globalização econômica e revolução tecno-científica e crise, fatores
externos sempre tem influência na conjuntura política mundial e local de qualquer país,
principalmente na periferia das grandes economias mundiais. Por outro lado, diante de
tudo isso, nossas atenções devem se voltar para o Brasil e para o BRICS porque
evidentemente o crescimento da direita e da extrema direita no mundo é um
acontecimento que vai impactar a política brasileira e a construção da agenda de um
mundo multipolar liderada pelos BRICS que terá que avançar mais firmemente na sua
expansão.

No Brasil, entretanto, em que pese a taxa de aprovação do Governo Lula está bem acima
dos níveis de aprovação dos governos europeus, a situação política pode até não ser de
uma nova ameaça da extrema direita, porém, não é uma situação política confortável
porque quem tem o tipo de direita política que tem por aqui não precisa de extrema
direita para se sentir ameaçado, afinal o que é a extrema direita senão a direita num
grau mais deteriorado de delírio e perversidade política? Sigamos!